Os animais tem a compreensão dos sentimentos muito mais apurado do que nós… e embora andem a gritar que somos os seres mais avançados da terra, para mim somos um bando de ignorantes deslumbrados com a sua própria existência, totalmente cegos ao que realmente é importante e que pode contar entre sentir ou simplesmente existir…
E quando sinto que o fim do planeta está próximo e que nos vamos finalmente ser extintos… tenho pena daqueles que não tiveram opção, os animais, as crianças e pouco mais… tenho pena das plantas, das arvores, da agua… de tudo o que já estava e que nos deu tudo, e que nós simplesmente destruímos, vendemos, mata-mos…
Abro a janela e vejo que mesmo depois de tanta maldade de tanta crueldade, a natureza ainda é grandiosa e bondosa para com os homens! Os animais continuam a esperar de nós coisas boas, e correm para as nossas mães, para serem abandonados, mortos, mutilados, violados, esfolados vivos, comidos, vestidos… etc.…
Estranho não é? Comigo aqui em fazem aqui me pagam… ou aqui me fazem e nunca mais dou oportunidade para repetirem a dose… Com eles perdoam tudo, não esquecem, como algumas mentes brilhantes alegam!!!! Eles não sabem é o que é o rancor, nem a vingança…
A Maria foi a uma das nossas campanhas, estava triste, prostrada e tinha decidido que não ia viver mais… eu li nos olhos dela…
Trouxe-a cá para casa e apresentei-a ao meu pedaço de mundo, e ela no minuto seguinte, correu, comeu, bebeu, e brincou! E os meus animais deram-lhe mil beijinhos, a cama, a comida, as boas vindas! Não é a mesma cadelinha assustada e triste, é uma cadela feliz…
A semana passada algum ser evoluído, lembrou-se de meter 5 cadelinhas de 2 semanas num saco plástico e meteu-as no caixote do lixo! Alguém viu e pediu-nos ajuda.
Vieram cá para casa, é complicado tratar de 5 pequeninas e trabalhar ao mesmo tempo! Ainda por cima, não tenho horas de chegar só de sair... De 2 em duas horas há o leitinho, serem estimuladas, e claro precisam de muitos carinhos! Mas dentro da caixinha, lá andaram a traz de mim, e embora ande numa altura péssima, sem horários de acabar o trabalho, tudo se faz…
No 3 dia estava muito preocupada com elas porque estavam sempre molhadas e pedi a brincar a Maria (cadelinha do canil), para me dar uma ajuda… Para meu espanto, ela saltou para dentro da caixinha e começou a lamber as meninas e dar as maminhas, sem leite… Desde esse dia, adoptou as pequeninas, é uma mãe exemplar e até quando lhes dou o leitinho no biberão ela fica preocupada e não sai de perto de mim… Com o maior carinho e dedicação adoptou as pequeninas…
É aqui que toda a minha tese de que não valemos nada, e que temos tudo a aprender com os animais, ganha mais e mais peso em mim…
Sempre disse que queria adoptar uma criança, e desde de que vi com os meus olhos os orfanatos e centros onde permanecem, que deixou de ser um desejo para ser um objectivo primordial na minha vida.
Cada vez que digo isto, fica tudo escandalizado a olhar para mim, como se eu fosse alguma maluca, e vem cm as teses de que é muito complicado, porque os miúdos vem cheios de problemas e traumas, e dizem-me com cada disparate que eu fico absolutamente parva como é pessoas que tem filhos podem ser tão programáticas e vazias de solidariedade com outras crianças, mas enfim… é no mundo que eu vivo… partilho as minhas experiências, falo do que tenho visto e sentido nestes últimos anos, e conto como eles são carentes de amor, como são receptivos de palavras, e como desejam a mais básica das coisas, ter uma mãe e um pai… ou um dos dois, não são esquisitos!
Falam sempre do facto de não ser do meu sangue, como se isso fosse alguma coisa de importante, e do facto das outras crianças, ou seja os filhos que andam a criar, irem gozar com as crianças adoptadas, por serem de cor diferente dos pais, ou algo do género…
Francamente não consigo alcançar este raciocínio, e aguardo com imensa ternura o dia em que poderei ser mãe de uma criança que não tem o que todas deviam ter e muitas até nem ligam nenhuma!
Eu e o Pedro costumamos imaginar se é menina ou menino, e como será ser pais de tanto cão e de putos ao mesmo tempo… Temos a tendência de tentar organizar as coisas mentalmente… e não nos importa francamente nada das coisas que nos dizem… vamos amar todos da mesma forma, assim como a Maria que é bege e não tem leite, e adoptou 5 cadelinhas pretinhas que chupam nas suas maminhas só para adormecer…
Como o mundo é cruel, a data que escrevo estas linhas, já morreram duas nas minhas mãos, e a Maria chorou ao meu lado a dor de ver um bebe sofrer e perder a vida entre os dedos que as apertam… tenho vontade de gritar tão altoooooooo, tenho vontade de berrar durante dias, tenho vontade de me deitar ao lado delas e esquecer que existe mundo lá fora… tenho vontade de levar os corpinhos delas e as lembranças de deixaram em mim, para a praça publica, e gritar bem alto, aqui tem o resultado de não esterilizar, de abandonar de ser estúpido e atraso, de ser ganancioso e ignorante…
Ao menos elas tiveram uma mãe, é o que digo a mim mesma e a Maria para a consolar… tiveram duas Maria… mas foi pouco muito pouco… tão pouco…
Quase nada no meio do tudo…
Não acredito no céu… mas se existir, o meu é um campo cheio de flores, com um riacho, onde não existe frio, nem fome, nem sede… Onde tudo é limpo, onde todos partilham o que tem… onde não existe barulho… e onde durmo ao sol, com todos eles em meu redor… assim até podia existir eternidade…
Para o inferno não devo ir, porque já cá estou a 28 anos…
Adeus minhas pequeninas…. Até lá….
Lisboa, 16 de Setembro de 2007…
Sandra Duarte Cardoso
. Em frente ao mar que nos ...
. Iris
. Eu e a minha malta... nas...
. ...
. ...